quinta-feira, 3 de março de 2011

O domingo sempre foi dia de descanso. FALSO!!!

De acordo com a Bíblia, Deus declarou que descansaria no sétimo dia da semana. Com o advento do cristianismo, o repouso dominical se tornou uma tradição de séculos, certo? Errado!


A adoção do domingo como dia de repouso (obrigatório em países como a França) tem um fundamento bíblico. De acordo com o Livro Sagrado, "Deus concluiu no sétimo dia a obra que fizera e no sétimo dia descansou" (Gênesis 2, 2). A própria etimologia da palavra evidencia esse sentido: “domingo” deriva do latim dies dominicus, ou "dia do Senhor".

Os primeiros cristãos tanto respeitavam o descanso que o judaísmo reserva ao sábado quanto celebravam o dia seguinte, tido como data da ressurreição de Cristo. A Igreja, ainda em seus primórdios, já proclamava a obrigação de assistir às missas no sétimo dia, embora não contasse com nenhum respaldo legal. A situação se alterou quando o imperador Constantino, em 321, fixou o “dia do Senhor” como feriado no Império Romano. Na prática, porém, a obrigação de comparecer às atividades religiosas se impôs muito mais que o direito ao repouso semanal.

No século XVIII, os filósofos iluministas chegaram a desenvolver toda uma argumentação para enaltecer as vantagens do trabalho aos domingos. De acordo com o artigo que a célebre Enciclopédia dedicou ao dia, determinada comunidade se beneficia quando suas atividades econômicas não são interrompidas no “dia do Senhor”. Anos mais tarde, durante a Revolução Francesa, o tradicional calendário gregoriano foi suprimido e substituído por um novo, que instituiu a semana de dez dias e, seguindo a política de erradicação de qualquer referência religiosa, eliminou o domingo. O antigo calendário foi restabelecido somente em 1806, sob o governo de Napoleão.

Uma das primeiras tentativas de imposição do repouso dominical ocorreu na França em 1814, quando o governo dos Bourbon aprovou uma lei para a “santificação do domingo”. A decisão só valeu até a ascensão, 16 anos depois, da monarquia burguesa de Luís Felipe I, que deixou de aplicar sanções aos que desrespeitavam o descanso no “dia do Senhor”. Em 1880, essas leis foram totalmente abolidas.

O efeito desse recuo se fez sentir especialmente nas regiões industrializadas, nas quais operários sofreram com a perda do benefício e passaram a se organizar para reconquistá-lo. Essa luta levou à adoção de princípios que permanecem em vigor ainda hoje na França, além de inspirarem as legislações de vários outros países. O principal deles é o direito a um repouso de 24 horas após seis dias de trabalho.

Ainda assim, a escolha do dia de descanso ficava a cargo do empregador. Os católicos defenderam o caráter familiar do domingo, apoiados por alguns deputados de esquerda. Aproveitou-se também o fato de que o descanso das mulheres e crianças ocorria geralmente no sétimo dia. Em 13 de julho de 1906 foi votada, enfim, a lei que concedeu o repouso dominical. Conforme a medida ganhava força, passando a ser verdadeiramente aplicada só depois da Primeira Guerra, o “dia do Senhor” perdeu cada vez mais seu caráter religioso.

Longe de ser uma tradição que remete a tempos imemoriais, o direito ao lazer no domingo é recente e foi adquirido à custa de muita luta. Até quando?

Um comentário:

  1. Há relatos primitivos da guarda do Domingo. Assim diz um escrito de 74 d.C.: “Guardamos o oitavo dia (Domingo) com alegria, o dia em que Jesus levantou-se dos mortos” (Epístola de Barnabás 5:6-8). Santo Inácio, bispo de Antioquia, discípulo do Apóstolo João, afirma: “Aqueles que viviam segundo a ordem antiga das coisas voltaram-se para a nova esperança, não mais observando o Sábado, mas sim o dia do Senhor, no qual a nossa vida foi abençoada, por Ele e por sua morte” (Carta aos Magnésios. 9,1). Uma homilia de um autor do século IV, afirma "que o dia do Senhor é o senhor dos dias. (Pseudo-Eusébio de Alexandria, Sermão 16: PG 86, 416.) São Jerônimo escreveu que "o domingo é o dia da ressurreição, é o dia dos cristãos, é o nosso dia" (In die dominica Paschae II, 52: CCL 78, 550). Um autor oriental, do início do século III, conta que em toda a região os cristãos, já então, santificavam regularmente o Domingo. (cf. Bardesane, Diálogo sobre o destino, 46) A propósito, independente do caráter religioso, é bom que os trabalhadores tenham um dia na semana para descansar, não?

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