segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

O casamento de padres sempre foi proibido. FALSO!

Seguindo o exemplo de Jesus Cristo e de seus discípulos, os primeiros cristãos permaneceram celibatários. A Igreja impôs a regra a seus sacerdotes desde o princípio, certo? Errado!


Jesus Cristo jamais proferiu algo contrário ao casamento de religiosos, e alguns de seus apóstolos tiveram esposas e filhos. O judaísmo, crença da qual se originou o cristianismo, não impunha o celibato aos rabinos. Logo, a Igreja Católica também passou um longo tempo considerando aceitável a ordenação de homens casados.

Uma das primeiras tentativas de imposição do celibato aos padres fracassou no Concílio de Niceia, no ano 325. A reunião só conseguiu proibir o casamento depois da ordenação. Ao que tudo indica, porém, nem mesmo essa cláusula foi respeitada rigorosamente, já que vários clérigos do período viviam com suas companheiras e resistiram à nova regra. No século IV, por exemplo, bispos como Gregório de Nazianzo e Gregório de Nissa eram casados, e 39 dos papas tiveram esposas e filhos, que chegaram, em alguns casos, a suceder os pais.

Essa situação começou a mudar com a ascensão de vários monges a cargos de importância na hierarquia eclesiástica. A multiplicação das decisões papais, concílios e sínodos de bispos em defesa da obrigatoriedade do celibato mostra que a força política desse grupo, praticante da renúncia aos prazeres mundanos, alterou bastante a estrutura de poder da Igreja.

A disputa entre opositores e defensores do celibato se acirrou no século X, quando o Império Carolíngio sucumbiu e a Igreja passou a enfrentar dificuldades para impor suas normas aos clérigos. O afastamento das questões espirituais, a prática da simonia (venda de bens sagrados e de benefícios eclesiásticos) e os casos de nicolaísmo (incontinência dos padres que se casam ou vivem em concubinato) se tornaram mais frequentes. Uma reforma era necessária.

Embora iniciada por Leão IX, foi o papa Gregório VII que emprestou seu nome à chamada “reforma gregoriana”. Esse movimento intensificou a crítica à incontinência dos religiosos e passou a valorizar um clero inteiramente voltado à sua tarefa, sem relações familiares que pudessem afastá-lo dos interesses espirituais ou levá-lo a usurpar bens da Igreja para benefício de seus parentes.

Em vários países, como Alemanha, França, Inglaterra e Espanha, essas decisões foram mal recebidas pelos clérigos locais, e o concubinato dos padres persistiu. No entanto, a população aderia cada vez mais às decisões papais e, ansiosa pela renovação de um clero corrupto e permissivo, rejeitava os religiosos que continuavam a ter uma amante ou a praticar atos condenáveis.

Assim, o desejo de um enquadramento melhor dos padres e de uma definição mais restrita de sua disciplina continuou a ganhar força. Os cânones dos concílios de Latrão II (1139), Latrão III (1179) e, finalmente, Latrão IV (1215) reiteraram a proibição ao concubinato dos padres e à ordenação de homens casados. Essas determinações têm sido rigorosamente aplicadas pela Igreja Católica até os dias atuais, a despeito do que fizeram os cristãos ortodoxos: para eles, a ordenação de homens casados continua sendo, a exemplo do que ocorria nos primeiros anos do cristianismo, uma prática perfeitamente aceitável.

por Olivier Tosseri

2 comentários:

  1. Na verdade isto não é norma da Igreja Católica, e sim da Igreja Católica latina. A Igreja Católica é formada por 23 Igrejas submissas ao Papa, sendo 22 orientais. Destas, várias ainda permitem o casamento entre os sacerdotes. E qual é a prova de que vários Apóstolos tiveram mulheres e filhos? A Bíblia só cita isso de São Pedro. Apesar disso, a Bíblia não cita mulher ou filhos deste, mas apenas a sogra, então ele podia já ser viúvo. O próprio Pedro afirma: "Vê, nós abandonamos tudo e te seguimos." Jesus respondeu: "Em verdade vos declaro, ninguém há que tenha abandonado, por amor do reino de Deus, sua casa, sua mulher, seus irmãos, seus pais, ou seus filhos, que não receba muito mais neste mundo, e no mundo vindouro a vida eterna." (Lucas 18,28ss) E a Bíblia também diz: Seus discípulos disseram-lhe: "Se tal é a condição do homem a respeito da mulher, é melhor não casar". Respondeu ele: "Nem todos são capazes de compreender o sentido desta palavra, mas somente aqueles a quem foi dado. Porque há eunucos que são desde o ventre de suas mães, há eunucos tornados tais pelas mãos dos homens e >>há eunucos que a si mesmos se fizeram eunucos por amor do Reino dos Céus.<< Quem puder compreender, compreenda. (Mat. 19,10ss) Também São Paulo aconselha o celibato (cf. I Coríntios 7,1-8; 25-32; 35-38). Como vemos, a própria Bíblia faz referência a este. ^^

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    1. São Jerônimo, na sua obra "Contra VIgilâncio", escreveu no cap. 2: "Vergonhoso de se mencionar é que alguns bispos, segundo dizem, se associaram a ele em sua iniqüidade - se é que esses homens podem mesmo ser chamados de bispos - e não ordenam diáconos a não ser que tenham eles sido previamente casados. Eles não honram o celibato exigindo mais castidade, ou melhor, eles mostram claramente que a medida da santidade de vida que querem se dá indulgenciando as piores dúvidas do homem e, exceto que os candidatos à ordenação apareçam perante eles com esposas grávidas e bebês chorando no colo de suas mães, não administrarão a estes a ordenação de Cristo." Também ele disse: “A virgindade de Cristo e da Virgem Maria têm dedicado em si os primeiros frutos da virgindade para ambos os sexos. Os apóstolos, quer tenham sido ou virgens, embora casados, viveram uma vida de celibato. Aquelas pessoas que são escolhidas para ser bispos, sacerdotes e diáconos ou são virgens ou viúvas, ou, pelo menos, quando depois de terem recebido o sacerdócio, fazem votos de castidade perpétua.” (Cartas 48, 21).

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