terça-feira, 29 de junho de 2010

Espiões russos são descobertos e presos...

Por The New York Times

Eles viveram por mais de uma década em cidades americanas e subúrbios, de Seattle a Nova York, e pareciam casais comuns, com empregos habituais, conversando com vizinhos sobre escolas e pedindo desculpas por adolescentes barulhentos.

Na segunda-feira, no entanto, promotores federais acusaram onze pessoas de fazer parte de uma rede de espionagem russa, vivendo sob nomes falsos e envolvidos profundamente num paciente esquema para penetrar no que uma mensagem em código chama de “círculos de decisão política” americanos.

Uma investigação do FBI que começou sete anos atrás culminou com a prisão no domingo de dez pessoas em Yonkers, Boston e no norte da Virgínia. Os documentos detalhados que as autoridades chamam de “programa de clandestinos” é um ambicioso esforço de longo prazo da SVR, a sucessora da soviética KGB, para plantar espiões nos Estados Unidos com o objetivo de recolher informações e recrutar novos agentes.

Os supostos agentes estão envolvidos em recolher informações sobre armas nucleares, política americana sobre o Irã, liderança da CIA, ações do Congresso e muitos outros tópicos, disseram os promotores. Os espiões russos faziam contato com ex-funcionários graduados da segurança nacional americana e pesquisadores nucleares, entre outros. As acusações não incluem espionagem e não está claro quais segredos os suspeitos – que incluem cinco casais – estavam coletando.

Após anos de vigilância do FBI, os investigadores decidiram fazer as prisões no final de semana passado, logo depois da visita do presidente russo, Dmitri Medvedev, ao colega Barack Obama. O presidente americano não ficou feliz com a data, mas investigadores temiam que alguns suspeitos pudessem escapar, segundo um oficial.

As acusações apresentadas em tribunais distritais na segunda-feira podem ser vistas como um thriller à moda antiga da Guerra Fria. Espiões trocando sacos de laranja idênticos em uma escadaria de estação ferroviária, identidade emprestada de um canadense morto, passaportes falsos, tinta invisível, uma grande soma de dinheiro enterrado durante anos num campo ao norte de Nova York.

Mas a rede dos chamados “clandestinos” – espiões operando com nomes falsos fora da cobertura usual da diplomacia – também usou tecnologias digitais, segundo as acusações. Eles incorporaram mensagens codificadas em imagens de aparência comum publicadas na internet e dois deles se comunicavam usando softwares especiais em seus laptops.

Especialistas em inteligência russa manifestaram surpresa com a dimensão, longevidade e dedicação do programa. Eles notaram que Vladimir Putin, primeiro-ministro russo e ex-presidente e chefe de espionagem, tinha trabalhado para restaurar o prestígio da inteligência russa depois do colapso da União Soviética e a péssima imagem da KGB.

“A magnitude, e o fato de haver muitos envolvidos, foi um choque para mim”, disse Oleg Kalugin, ex-general da KGB que trabalhou com espião soviético nos Estados Unidos nos anos 60 e 70 sob a cobertura “legal” como diplomata e correspondente da Rádio Moscou. “É um retorno aos velhos tempos, nos piores anos da Guerra Fria. Acho que não há mais de dez clandestinos nos Estados Unidos, provavelmente menos.”

As autoridades americanas também seguiram um grupo de agentes baseados em Yonkers em viagens para um país da América do Sul não identificado, onde foram filmados recebendo sacos de dinheiro e passando mensagens escritas com tinta invisível para russos num parque público. Os promotores afirmaram que o “programa de clandestinos” se estende a outros países. Com o uso de documentos fraudados, os espiões podem “assumir identidades de cidadãos ou residentes legais de países onde foram plantados”.

Por vezes eles cursam universidades, arrumam empregos e se ligam a associações profissionais para aprofundar suas identidades falsas. Uma mensagem dos chefes em Moscou, em inglês desajeitado, dá conta da mais reveladora atribuição dos agentes: “Você foi mandado para os Estados Unidos para um trabalho de longa duração”, diz o texto. “Sua educação, conta bancária, carro, casa – tudo serve a um objetivo: cumprir sua missão principal, a pesquisa e desenvolvimento de laços com círculos políticos e o envio de relatórios de inteligência.”

Os presos foram acusados de conspiração (e não por suposta espionagem), lavagem de dinheiro e omissão, por não se registrarem com agentes de um governo estrangeiro. Os crimes têm sentenças que variam entre cinco e 20 anos. Eles não foram acusados de obter material secreto.

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